Elena Alvarez

Elena é uma representação estereotipada da adolescente atual: ela é bem informada, entende de política, se importa com questões de gênero e sai às ruas em protestos para defender aquilo em que acredita. Fazer da sociedade um local acolhedor para pessoas fora da caixa “hétero-branco-de-classe-média” é seu grande objetivo. O problema da série é que, apesar de ser tão livre de preconceitos, apresenta o ativismo de Elena como algo cômico, risível, claramente exagerado e fruto de sua idade, como se fazer militância política fosse restrito apenas a adolescentes que ainda estão se descobrindo, ao invés de algo necessário em todas as faixas etárias.

Poucas são as produções que trazem o contexto do ativismo político em suas histórias. Nas raras vezes em que ele é abordado, costuma ser de forma passageira (como em The Handmaid’s Tale, apesar de que ali ele cumpre bem sua função pois a série toda é uma crítica política; e Outlander, com o movimento encabeçado por Geilis Duncan (Lotte Verbeek) em favor da libertação escocesa) ou como alívio cômico (caso da própria One Day at a Time e também de alguns episódios de Friends em que Phoebe (Lisa Kudrow) aparece envolvida em algum tipo de ativismo não muito bem explicado). O que as produções parecem querer transmitir é que o ativismo é praticado essencialmente por dois grupos: adolescentes descobrindo o mundo ou pessoas em situação de desespero. O envolvimento político saudável não é do interesse das telas.

Nem por isso o posicionamento de Elena na série deixa de ter importância. Pelo contrário: apesar das críticas quanto à comicidade exagerada com que ele é tratado, Elena é uma das personagens mais centradas da ficção, com uma capacidade argumentativa invejável e uma persistência tamanha que foi capaz de convencer sua avó a obter a cidadania para participar das decisões políticas do país exercendo seu direito ao voto. Isso é simplesmente incrível e tal representatividade — de uma jovem latina e lésbica com o poder de argumentação e a coragem de lutar pelo que acredita — é essencial e não pode ser desmerecida de forma alguma.